Ano ficará marcado pelo início de várias mudanças: chegada de novos donos, início de conversas por liga e recuperações judiciais. O ge abre ...
Ano ficará marcado pelo início de várias mudanças: chegada de novos donos, início de conversas por liga e recuperações judiciais. O ge abre a sua série anual de finanças para evidenciar desafios
Para quem gosta de periodizar acontecimentos históricos, não é arriscado dizer que 2021 será um marco para o futebol brasileiro. A chegada do capital de novos proprietários, alguns estrangeiros; a iminente fundação da liga de clubes; a entrada de entidades tradicionais em processos de recuperação judicial – esses elementos começam a alterar este mercado.
Todos esses movimentos têm relação com o atual estado das coisas no futebol nacional. Empresários que compram clubes esperam que haja uma expansão considerável de receita nos próximos anos. A liga é uma esperança de reorganização, a fim de elevar a arrecadação. E as recuperações judiciais só ocorrem porque essas entidades quebraram.
Financeiramente, em 2021, algumas sequências foram interrompidas. O endividamento dos clubes crescia de maneira assustadora nos anos anteriores, por exemplo. Se ainda não foi reduzido, fator importante para a reestruturação do futebol, pelo menos parou de se agravar.
No lado do faturamento, números precisam ser interpretados com cuidado, pois a pandemia da Covid-19 ainda causa distorções em termos de contabilidade. Mas também é verdade que algumas linhas de receita tendem a destravar, como a do estádio, além de outras novidades.
Para que torcidas e mercado tenham noção mais clara da situação do futebol, o ge publica neste mês de junho a sua série especial sobre finanças. A começar por este panorama geral da elite, seguido por análises individuais dos 30 principais clubes do país, além do ranking de transparência e confiabilidade das demonstrações contábeis.
Panorama
Todos os dados contidos nesta reportagem representam a soma de 26 clubes – todos os que disputaram o Campeonato Brasileiro, os quatro promovidos da Série B, além de Cruzeiro e Vasco. Esses dois clubes foram considerados para que a ausência de seus números na amostra não gerasse distorções na comparação com anos anteriores.
Em 2021, essa elite do futebol contabilizou R$ 7,2 bilhões em receitas. Um valor consideravelmente maior do que na temporada anterior, porém com alguns asteriscos proporcionados pela pandemia. Esses mesmos clubes chegaram a R$ 11 bilhões em dívidas, mesmo patamar em que estavam no ano anterior. O endividamento não caiu, mas estabilizou.
Esses números são colocados em paralelo porque indicam a capacidade que os clubes têm de honrar suas dívidas. E a proporção ainda é negativa. A considerar que dirigentes também têm custos a pagar com aquilo que arrecadam, é notória a dificuldade de quem deve tanto.
A relação entre receitas e dívidas do futebol brasileiro
Receitas
De onde vem o dinheiro do futebol? Majoritariamente, dos direitos de transmissão e das premiações. Em 2021, essa receita representou 54% de tudo o que os clubes arrecadaram. Mas é neste ponto em que a interpretação deve ser cautelosa, pois a pandemia ainda interfere.
Conforme competições nacionais e internacionais de 2020 foram adiadas e encerradas somente no ano seguinte, parte relevante de suas receitas com transmissão também ficou para 2021. Ou seja, clubes registraram no ano passado verbas que pertenceriam ao exercício anterior.
É por isso que o valor da televisão está tão alto. Também é por isso que muitos clubes contabilizaram lucros, em vez de prejuízos. Em um cenário normal, era de se esperar que os direitos de transmissão preenchessem entre 30% e 40% do faturamento do futebol brasileiro.
O perfil do faturamento do futebol brasileiro em 2021
Entre outras linhas do faturamento, houve certa alternância. O marketing e a área comercial cresceram em 2021 e passaram a ocupar o posto de segunda maior receita do futebol. Aí contam patrocínios, contratos de materiais esportivos, merchandising e licenciamentos. Flamengo, Palmeiras e Corinthians puxaram esse resultado para cima.
Por outro lado, se até o ano retrasado as transferências de jogadores eram de longe a segunda entrada mais relevante de dinheiro, na temporada passada ela passou ao terceiro lugar. É provável que o mercado externo tenha retraído, ou seja, que clubes europeus tenham investido menos na "importação" de brasileiros.
A arrecadação com torcida e estádio – item que inclui bilheterias, sócios-torcedores e rendas ligadas ao dia do jogo – está estagnada em cerca de R$ 600 milhões. Portões fechados em grande parte do ano, por causa da Covid, prejudicaram muito. Se voltarem ao patamar anterior, de 2019, é possível que os clubes arrecadem por volta de R$ 1 bilhão no ano.
A análise sobre receitas ainda precisa desconsiderar a inflação, ainda mais em momento de instabilidade na economia brasileira. O ge aplicou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial do governo, e trouxe o faturamento dos clubes a valor presente.
A variação real entre um ano e outro mostra o ritmo de crescimento do mercado do futebol – sem nunca esquecer que o registro tardio de receitas de transmissão prejudica a comparação entre 2020 e 2021. Apesar disso, os clubes voltaram a elevar seus faturamentos.
Dívidas
Depois de crescer tanto, por tantos anos, chega a ser boa a notícia de que o endividamento dos clubes estacionou em R$ 11 bilhões. Ainda é muito mais do que a maioria dos dirigentes pode arcar. Mas este é o primeiro passo para que o futebol brasileiro comece a se recuperar.
O que ainda aperta muito é o prazo. Metade dessas dívidas será cobrada no curto prazo, ou seja, em menos de um ano. Clubes precisariam arrecadar muito mais para conseguir dar conta de seus custos e ainda cumprir esses vencimentos. Como não conseguem, rolam as obrigações.
Em relação à natureza dessas dívidas, a maior parte é trabalhista – com 30% sobre o total. São salários e direitos de imagem que cartolas prometeram e não pagaram por anos, que eventualmente foram cobrados por ex-jogadores, ex-técnicos e ex-funcionários na Justiça.
Impostos que deixaram de ser pagos nos últimos anos estão em segundo lugar e representam 26%. Nesta coluna, estão parcelamentos que dirigentes negociaram e renegociaram com o governo ao longo dos últimos anos. O Profut, inclusive, começou a ser substituído por outros refinanciamentos, como a transação tributária e o Perse.
Dívidas bancárias aparecem na terceira colocação, com 24% do montante. Neste caso, há duas dívidas: o empréstimo feito por dirigentes com instituições financeiras, mediante a cessão de receitas futuras, e o aporte de mecenas, geralmente sem juros ou com condições favoráveis.
Ainda há, na linha "outros", fornecedores e demais entidades esportivas. Quando clubes vão ao mercado para se reforçar com a compra de jogadores de adversários, essas promessas de pagamento viram dívidas na categoria, por exemplo. E elas correspondem a 20% do total.
Sumário
As análises individuais das contas dos clubes serão publicadas pelo ge no decorrer deste mês de junho, além de outros conteúdos ligados às finanças. Os textos serão publicados em ordem alfabética, com prioridade para quem disputou a primeira divisão em 2021, ano de referência.
Campeonato Brasileiro
América-MG
Athletico-PR
Atlético-GO
Atlético-MG
Bahia
Ceará
Chapecoense
Corinthians
Cuiabá
Flamengo
Fluminense
Fortaleza
Grêmio
Internacional
Juventude
Palmeiras
Red Bull Bragantino
Santos
São Paulo
Sport
Série B
Avaí
Botafogo
Coritiba
Cruzeiro
Goiás
Guarani
Náutico
Ponte Preta
Vasco
Vitória
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