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Por mais que agrade ao paladar, o consumo de ultraprocessados em excesso aumenta o risco de ter demência e outras doenças
O ser humano desenvolveu o hábito de buscar o que traz praticidade à sua rotina, inclusive em termos de alimentação. Alimentos cujo preparo seja rápido ou que não exijam nenhum – especialmente aqueles que aguçam o paladar – ganharam espaço e são cada vez mais consumidos. E é aí que os ultraprocessados se destacam. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a ingestão calórica proveniente dos ultraprocessados cresceu entre 2002 e 2018: eles ocupavam 14,3% da dieta diária nos lares brasileiros e passaram para 19,4%.
O aumento tem sido gradativo e se intensificou durante a pandemia de covid-19, como prova um estudo feito pelo Datafolha, encomendado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). As taxas mostram que brasileiros de 45 a 55 anos que consumiam esses alimentos eram 9% em outubro de 2019 e, em junho de 2020, saltaram para 16%.
Essa informação também é confirmada pelos lucros das indústrias do setor. A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), por exemplo, registra lucro de R$ 50,4 bilhões em 2021 – um aumento de quase R$ 6 bilhões em relação a 2020 e de quase R$ 10 bilhões em comparação a 2019. Ou seja, em dois anos, o lucro das empresas aumentou mais de 20%.
Eles são feitos dessa maneira para que tenham maior vida útil de prateleira e para que aguentem modos de transporte e temperaturas diferentes. Em razão disso, a indústria economiza em logística e há menor desperdício de seus produtos, o que gera maior lucro.
Ultraprocessados, via de regra, contêm grandes quantidades de conservantes e são ricos em calorias, açúcares, gorduras, sal e aditivos químicos. Há neles, inclusive, substâncias desenvolvidas especialmente para torná-los atraentes ao paladar humano e até mesmo viciantes: um exemplo é o famoso refrigerante de cola. Além disso, eles são extremamente pobres nutricionalmente.
Estão nessa categoria os biscoitos, sorvetes e guloseimas, bolos, cereais matinais e barras de cereais, sopas, macarrão e temperos “instantâneos”, salgadinhos “de pacote”, refrescos e refrigerantes, achocolatados, iogurtes e bebidas lácteas adoçadas, bebidas energéticas, produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc.), entre outros.
Já um estudo feito em conjunto pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP (Nupens), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Santiago do Chile mostra que as mortes no Brasil ligadas aos ultraprocessados estão perto de 57 mil por ano. Esse número é maior do que o de mortes causadas pelo trânsito brasileiro (considerado um dos mais letais do mundo), que totalizam 45 mil ao ano, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A nutricionista Carolina Martins ressalta que esses alimentos podem gerar doenças como depressão, esquizofrenia e demência: “é por conta da ligação intestino-cérebro. Tudo que polui o intestino alimenta as bactérias boas e ruins e essa comunicação chega ao cérebro pelo nervo vago, levando, inclusive, agentes que podem poluir o organismo, como os presentes em aditivos, corantes e químicos. Isso tudo pode causar danos cerebrais”.
Carolina afirma que o melhor é abrir menos e descascar mais: “quanto maior for a vida do alimento em prateleira, menor será a sua. O alimento verdadeiro vem da feira. É lá que encontramos o que nos faz bem: vitaminas, nutrientes, fibras e minerais”.
Além de frequentar as feiras, Carolina aconselha que a pessoa prepare as próprias refeições: “uma opção é você mesmo fazer o seu fast-food em casa, montar o seu lanche. Muitos criticam o pão e a farinha, mas a culpa nem sempre é deles, mas do processo ao qual são submetidos. Fazendo seu próprio lanche, você ficará tão satisfeito quanto se fosse um ultraprocessado e ainda terá mais saúde”.
Carolina diz que não é obrigatório deixar de comer lanches, doces e congelados, por exemplo, mas, aos poucos, deve-se incluir alternativas menos agressivas e mais saudáveis à alimentação diária: “você pode fazer sobremesas com frutas, consumir chocolate 70% e, por dia, comer duas porções de saladas e verduras, de três a cinco frutas e ingerir dois litros de água para manter uma boa hidratação corporal”.
Universal - Por Camila Teodoro