Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos — Foto: Reprodução/Instagram Munhoz e Mari...
Os riscos de 'virar a garrafa': especialista fala sobre prática comum em shows sertanejos — Foto: Reprodução/Instagram
Munhoz e Mariano estão sendo processados após darem uísque a adolescente no palco. Fã de Gusttavo Lima passou mal depois de cena semelhante com o cantor. Entenda quais os riscos.
Munhoz e Mariano estão sendo processados por darem uísque a um adolescente de 15 anos. Nas imagens divulgadas, os artistas fazem uma contagem em segundos mostrando o tempo em que a garrafa é virada e tem o líquido despejado direto na boca do rapaz.
A cena não é rara em shows sertanejos. Alguns artistas chamam algum fã para subir ao palco e viram a garrafa de bebida alcoólica na boca deles. Outros, vão passando pela primeira fila do público e distribuindo alguns goles do líquido.
Em fevereiro, durante um show de Gusttavo Lima, por exemplo, um fã passou mal depois de participar de um desses momentos nos palcos.
Em imagens publicadas em sua própria rede social, o homem aparece recebendo a "virada de garrafa" ao longo de 10 segundos. Em seguida, confirma que "quer mais um pouquinho". E lá se vão outros 10 segundos. Até o momento em que Gusttavo diz: "Chega, senão depois vai sobrar pra mim". No mesmo vídeo, o fã aparece recebendo atendimento médico após a bebedeira no palco.
Há também alguns artistas que bebam sozinhos suas próprias "viradas de garrafa". Maiara e Maraísa aparecem com frequência bebendo e tomando banho direto do recipiente, além de distribuir copos de cerveja para os fãs.
Em entrevista ao g1, a psiquiatra Alessandra Diehl, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD), explica que a rápida absorção de bebida alcoólica, como acontece nesses casos, faz com que o nosso organismo não tenha tempo suficiente de metabolizar o álcool ingerido.
"Isso propicia níveis de alcoolemia [quantidade de álcool no sangue] mais rápidos e, consequentemente, mais álcool em excesso circulando na corrente sanguínea", diz Alessandra.
Ela ainda afirma que a grande quantidade de álcool em contato rápido com sistema nervoso predispõe, com maior facilidade, a quadros clínicos de coma e morte por parada cardiorrespiratória.
Alessandra destaca que os riscos não param por aí: quedas, traumatismo craniano após queda, perda da consciência, maior vulnerabilidade a acidentes e a sofrer abuso sexual, além da diminuição da crítica, da capacidade volitiva, cognitiva, memória e atenção estão entre eles.
Vale lembrar que não é de hoje que o tema álcool e música sertaneja estão conectados. Em 2013, o g1 contou que o ritmo virou tema de trabalhos acadêmicos em áreas distintas como Letras, Psiquiatria e Artes, abordando a relação entre as letras do gênero musical e o consumo de álcool no Brasil.
Binge drinking
As cenas nos palcos de artistas sertanejos, como Munhoz e Mariano e Gusttavo Lima, se encaixam na prática do "binge drinking", que consiste em ingerir grandes quantidades de bebida alcoólica em um curto espaço de tempo.
"É uma forma de beber muito predominante em jovens e adultos jovens em baladas e em festas open bar", diz Alessandra.
Os problemas e riscos com essa prática aumentam de acordo com dois fatores:
a velocidade com que a bebida alcóolica é ingerida
e a quantidade de álcool ingerida.
Há também uma diferença no padrão de "binge drinking" para homens e mulheres:
Para os homens: cinco doses ou mais consumidas dentro de um prazo de duas horas
Para mulheres: a quantidade mínima cai para quatro doses consumidas dentro dessas mesmas duas horas.
"Mulheres têm uma debilidade em quantidade da enzima aldeído-desidrogenase, que é responsável pelo metabolismo do álcool", explica Alessandra.
O risco de vulnerabilidade aumenta ainda mais se o "binge drinking" for praticado por uma adolescente. Lembrando que, de acordo com a Lei nº 13.106, de 2015, vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente é crime.
A pena pode variar de dois a quatro anos de prisão além de multa.
Sobre o caso de Munhoz e Mariano, a defesa da dupla informou ao g1 que o adolescente se apresentou como "maior de idade para subir ao palco".
Por g1