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Moradora do Itapoã passa em concurso para estudar música na Itália

Marcelo Barbosa (@marcelobarbosa) Jovem passou em 2º lugar para estudar música em Florença, na Itália. Moradora do Itapoã começou a tocar co...


Marcelo Barbosa (@marcelobarbosa)
Jovem passou em 2º lugar para estudar música em Florença, na Itália. Moradora do Itapoã começou a tocar contrabaixo aos 12 anos
Dona do 2º lugar do concurso para estudar contrabaixo acústico na Itália, a musicista Elissandra Conceição de Souza, 26 anos, tenta arrecadar cerca de R$ 25 mil para realizar o sonho musical na Europa. Moradora do Itapoã, a jovem ganhou uma bolsa para ingressar o Conservatório de Florença, mas só começará a receber o auxílio em fevereiro de 2025. Até lá, ela vai precisar de recursos para se manter no exterior
A contrabaixista, que estuda na Escola de Música de Brasília (EMB) e na Universidade de Brasilia (UnB), conheceu o instrumento aos 12 anos de idade, por meio de um projeto social do Paranoá que ensinava música de forma gratuita. Para conseguir a bolsa em Florença, que abriu o edital em março de 2024, ela se dedicou fielmente.

“Passei um ano estudando, sem saber qual seria o repertório do edital. Eu ia para a UnB estudar, porque não tinha instrumento e ficava o dia praticando. Estudava técnica, sonoridade… Quando saiu o edital, eu tive um mês para preparar tudo. O professor Ricardo que me ajudou a realizar uma boa prova”, conta.

Professor da EMB, Ricardo Teles dá aulas para Elissandra desde fevereiro deste ano, além de ser o dono do contrabaixo que a musicista usa para praticar – já que a jovem não tem um próprio. Ele conta que, no mesmo mês em que se conheceram, a aluna o procurou e pediu ajuda para estudar para o processo seletivo do Conservatório de Florença. Juntos, os dois começaram a trabalhar o repertório específico para o concurso.

“Eu sempre acreditei no potencial dela, sempre achei que ela iria conseguir passar. Em alguns momentos ela até ficou meio desestimulada, achando que era difícil, mas eu sempre incentivei porque eu sempre acreditei que ela tinha condições, assim como ela também tem condições de ir muito além”, afirma o docente.

“Estou muito empolgada, fico pensando ‘nossa, saí do Paranoá, do itapoã e vou estudar fora!’ Também penso muito na cultura deles e em aprimorar minha técnica, melhorar mais meus estudos no contrabaixo. Fico curiosa para saber como será do outro lado. Quero ficar melhor, estudar mais e, se um dia eu voltar, compartilhar tudo o que aprendi”, conta.

A bolsa do conservatório vai cobrir a moradia, transporte e aulas de italiano durante os três anos de curso, além de pagar parte da alimentação. Agora, ela tenta juntar o dinheiro necessário para se manter pelos três meses que não receberá a ajuda financeira.

Além de fazer uma campanha de arrecadação, a jovem faz várias apresentações e recitais para reunir os fundos. Ela já conseguiu comprar a passagem área para a Itália, depois de apresentar um solo ao lado da Orquestra Filamôrnica de Brasília, no 5º Festival Sinfônico da Orquestra, que ocorreu na Concha Acústica.

“Tenho tocado tocado muito com a orquestra, abriram esse espaço para mim. Já foram muitos ensaios e apresentações. Para o solo, preparei uma peça em menos de duas semanas.”

Essa será a segunda vez que a musicista sai do país para estudar música. Em 2021, ela ingressou o Conservatório De Rouen, na França, por meio de uma carta convite. “Eu vi que era isso que queria, e quando voltei para o Brasil fui estudar para passar em concursos no exterior”, revela a contrabaixista.

Aqueles que quiserem ajudar Elissandra a realizar o sonho na Itália podem doar quantias por meio da chave Pix (61) 99466-4421. Este também é o número da jovem, e é possível enviar o comprovante de pagamento por meio de uma mensagem.
“Só queria fazer música”
Nascida em Ilhéus, na Bahia, Elissandra mora no Distrito Federal desde os 11 anos. A mãe dela foi a primeira a vir para a capital, em busca de uma vida melhor. “Ela veio para Brasília porque estava farta e queria um recomeço. Ela dizia que não queria passar a vida inteira na Bahia, veio para cá sem nada e começou a trabalhar como doméstica”, explica a estudante. Dois anos depois, quando conseguiu moradia para a família, a mulher buscou Elissandra e as outras duas filhas.

“Ela conseguiu uma kitnet e nos levou para lá. A gente [ela e as três irmãs] se virava. Fazíamos tudo sozinhas. Minha mãe sempre foi desapegada e acho que puxei isso dela. Se eu estou aqui, mas tem uma oportunidade para melhorar de vida em outro lugar, já estou indo. Se eu puder estudar música na China, estou indo.”

Logo depois de chegar à capital, Elissandra teve o primeiro contato com o contrabaixo acústico, por meio do Projeto Música e Cidadania. No colégio, a jovem recebeu um panfleto com as informações da ação. O folheto mostrava imagens de variados instrumentos que a encantaram. Ela pediu para a mãe a levar, mas a mulher se recusou. “Ela dizia que em algum momento teríamos que pagar algo, e a gente não tinha dinheiro. Mas eles nunca cobraram nada, sempre deram lanche, transporte… deram tudo mesmo.”

Mesmo com a negativa da mãe, Elissandra foi com uma das irmãs até o local. No estabelecimento ela ouviu vários instrumentos, como violinos e violoncelos, mas o que chamou a atenção dela foi o contrabaixo, maior instrumento do recinto. “Fiquei muito curiosa com aquele instrumento, que era maior que eu. Eu me apaixonei pelas notas graves. As notas graves sempre me atraíram, foi amor a primeira vista.”

Elissandra integrou o projeto até 2021, quando a escola foi fechada por falta de recursos. Sem vínculo com o governo, a ação vivia de patrocínios, que foram perdidos durante a pandemia. De lá, ela foi para a Escola de Música de Brasília. Um professor do projeto também ensinava no local e a ajudou a entrar na academia.

“Foi onde eu vi que a música era realmente o que eu queria. Eu não pensava em outra coisa, só queria fazer música. Só vinha o contrabaixo na minha cabeça.”

Além da escola de música, Elissandra atualmente cursa bacharel e licenciatura em música na UnB. Ela deve trancar o curso para poder estudar na Itália, mas o plano é reaproveitar no Brasil as matérias cursadas em Florença. Ansiosa com o futuro após os estudos na Europa, a jovem compartilha a vontade de viajar o mundo com a música, trabalhar numa orquestra e até fundar um projeto social.

“Pensar no futuro estando no presente é muito difícil. Sou uma pessoa que sonha bastante, mas com meu pé sempre no chão. Se tem essa possibilidade, eu vou atrás. Eu quero tocar bem, construir uma técnica, fazer concursos e viajar pelo mundo tocando. Quero muito ter um emprego que me permita levar a música para o mundo.”

Por Rebeca Kemilly - Metropoles