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Ocorrências de importunação sexual quase triplicam em cinco anos no Distrito Federal

Casos podem ser denunciados pelo 190   Geovana Albuquerque/ Agência Brasília - Dados levantados pelo R7 consideram o período de 2019 a 2024;...

Casos podem ser denunciados pelo 190 Geovana Albuquerque/ Agência Brasília -

Dados levantados pelo R7 consideram o período de 2019 a 2024; por dia três pessoas são vítimas

Por dia, pelo menos três pessoas foram vítimas de importunação sexual no Distrito Federal no ano passado. Ao todo, foram registrados 1.094 ocorrências do tipo na capital do país, número quase três vezes maior que o registrado em 2019, ano seguinte à aprovação da lei de importunação. Os dados são de levantamento exclusivo feito pelo R7 via Lei de Acesso à Informação e revelam que em 2019, segundo a polícia civil, foram notificados 390 casos de importunação e 63 de assédio sexual, enquanto em 2024 os números saltaram para 1.094 e 129, respectivamente (veja dados abaixo).
No DF, a Lei contra a Importunação Sexual (Lei nº 13.718) entrou em vigor em 24 de setembro de 2018, na ocasião, nos três meses finais do ano, a polícia ainda conseguiu tipificar 50 casos de importunação e 58 de assédios. Desde então, as regiões administrativas que mais registram casos de importunação, no acumulado dos anos, são as áreas centrais da capital, com 690 ocorrências, seguida da região administrativa de Ceilândia (441) e Taguatinga (308).

Para o governo do Distrito Federal, o crescimento das ocorrências investigadas se deve à conscientização da população. “O incentivo à denúncia é de extrema relevância no enfrentamento aos crimes de violência sexual, pois permite que as autoridades atuem de forma cada vez mais efetiva. Isso contribui para a redução da subnotificação, para a ampliação da notificação de casos identificados e, consequentemente, no número de ocorrências. Portanto, os registros desses casos também estão relacionados às diversas campanhas de incentivo e a ampliação dos canais de denúncia, como a Delegacia Eletrônica, por exemplo”, analisa a Secretaria de Segurança Pública do DF.

Veja dados levantados pelo R7Luce Costa/Arte R7

A pasta reforça que a denúncia é o principal mecanismo para que o governo possa construir estratégias de atuação preventiva e que possa identificar e prender os autores.

“Em 2024, a maioria dos casos de importunação sexual no DF ocorreu dentro de residências, representando 16,8% dos registros, em relação aos locais informados. Os casos em transporte público representaram 7,3% do total para essa modalidade delituosa, com 76 ocorrências: ônibus (95%), veículo de aplicativo (1%), metrô (1%) e táxi (3%)”, informou a pasta sobre os dados preliminares do ano passado.

Qual a diferença entre importunação e assédio?

Advogada especialista no enfrentamento contra o assédio no trabalho, Michelle Heringer explica que é importante estabelecer a diferença entre importunação e assédio. “O assédio sexual acontece quando existe uma relação de poder, geralmente no ambiente de trabalho. Por exemplo, quando um chefe faz propostas ou insinuações de cunho sexual a um subordinado, usando a posição dele para isso. Já a importunação sexual é qualquer ato de natureza sexual feito sem o consentimento da vítima, que causa constrangimento, como toques, beijos forçados, ‘encoxadas’ em transporte público. Então a principal diferença é que o assédio envolve essa relação hierárquica, e a importunação pode acontecer com qualquer pessoa, inclusive entre desconhecidos”, observa.

Sobre as penas previstas na lei, a advogada detalha que a importunação sexual é considerada mais grave. “O assédio sexual tem pena de 1 a 2 anos de detenção, já a importunação sexual, que é considerada mais grave, tem pena de 1 a 5 anos de reclusão. E é importante dizer que os dois crimes são de ação pública, ou seja, o Ministério Público pode investigar e levar adiante o caso, mesmo que a vítima não queira continuar com o processo.”

Na avaliação da especialista, o aumento dos casos registrados no DF, se por um lado mostra que o problema é sério e acontece com frequência, por outro também indica que as vítimas estão denunciando mais. “Mas o dado também revela que precisamos de políticas públicas mais eficazes: mais segurança, campanhas de conscientização, e principalmente acolhimento adequado para as vítimas”, avalia.

Michelle também orienta as vítimas a denunciarem. “A orientação principal é: nunca se calar, nunca achar que a culpa é sua, porque a responsabilidade é sempre do agressor. Em caso de emergência, acione a polícia no 190. Registre o boletim de ocorrência, que pode ser feito na delegacia ou até online, em alguns casos. Procure apoio em Centros de Atendimento à Mulher, na Defensoria Pública, ou mesmo através do Ligue 180, que orienta e encaminha. E quem for vítima no ambiente de trabalho, deve procurar também os canais internos da empresa ou órgão público, se houver, e exigir que o caso seja tratado com seriedade”, explica.

O que está sendo feito no DF

A Secretaria de Segurança Pública destacou a criação do eixo Mulher Mais Segura dentro do programa de Segurança Integral, que concentra medidas preventivas e tecnologias voltadas para a proteção e o enfrentamento da violência contra a mulher, como uma das ações para combater o assédio e a importunação.

“A pasta lançou uma série de ações para promover um ambiente profissional sadio e de integração nas forças de segurança pública do DF. Entre as ações, estão a criação da ‘Política das Mulheres na Segurança Pública’ para o combate à desigualdade de gênero, o ‘Conselho das Mulheres da Segurança Pública’, que obriga a participação feminina nas decisões da alta gestão das corporações, a ‘Comissão Especial de Prevenção e Combate ao Assédio’, e o “Programa Ressignificar”, que prevê a capacitação de 100% dos servidores do segmento no respeito e no combate à violência contra a mulher”, lista.

Além disso, a Polícia Militar oferece policiamento especializado no atendimento às mulheres pelo Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica e Familiar. O Governo do Distrito Federal também realiza campanhas de prevenção e combate à violência sexual contra as mulheres.

O material conta com a participação da Secretaria de Segurança Pública, da Secretaria da Mulher, da Justiça (Sejus), de Mobilidade (Semob), das polícias civis e militar do DF, do Corpo de Bombeiros e do Departamento de Trânsito, entre outros atores, como organizadores de eventos da iniciativa pública e privada.

Acolhimento

A Secretaria da Mulher explica que atua também no acompanhamento das mulheres vítimas de violência. “Ao longo desta gestão, foram adotados programas e projetos para garantir o enfrentamento à violência, a autonomia econômica e o acesso à saúde integral das mulheres. Também são desenvolvidas políticas públicas voltadas ao empreendedorismo feminino”, diz.

“A Secretaria da Mulher promove um acolhimento humanizado e ações efetivas para a proteção e o empoderamento das mulheres do Distrito Federal. A rede de apoio a mulheres no DF é composta por 25 equipamentos públicos. Entre as ações em planejamento, estão a inauguração de mais quatro Casas da Mulher Brasileira, a criação de mais unidades de atendimento especializado, a intensificação de programas educacionais para conscientizar a sociedade sobre a violência de gênero e a importância da denúncia, e o fortalecimento de parcerias com todo o GDF e outras instituições para ampliar a rede de proteção e apoio às mulheres em situação de risco”, elenca.

A pasta também afirma que realiza periodicamente campanhas públicas de combate ao assédio, importunação e de incentivo à denúncia de violência contra mulheres. “Há três anos as campanhas de Carnaval são executadas pela pasta e, a cada ano, tem a sua extensão e atuação ampliada. Em 2025, mais de 2 mil cartazes foram distribuídos em estabelecimentos comerciais nas 35 RAs do DF. Também foram realizadas ações de distribuição de material informativo em blocos de rua, contra o assédio e o incentivo à denúncia”, informaram.

Outra iniciativa é o projeto “Educar para proteger”, que amplia o debate sobre a violência de gênero em escolas de ensino fundamental e médio no DF e disponibiliza materiais e redes de apoio. O projeto atende 15 escolas de forma direta com as ações, e 42 escolas de forma indireta usando as peças publicitárias para impactar a população dentro e fora das escolas.

Sensibilizar a sociedade

A Secretaria de Justiça e Cidadania do DF explica o protocolo Por Todas Elas estabelece as diretrizes para o acolhimento e proteção das vítimas e que o decreto nº 45.772/2024 do DF prevê a fixação de cartazes em locais visíveis informando sobre a disponibilidade de auxílio às mulheres que se sintam em situação de risco, além de assegurar a presença de um funcionário para prestar atendimento nos eventos da capital do país.

“A Sejus orienta as mulheres a denunciarem qualquer tipo de assédio ou importunação sexual, garantindo apoio jurídico, psicológico e social. Dentro do órgão, o programa Direito Delas é uma iniciativa da Sejus que visa oferecer atendimentos social, psicológico e jurídico gratuitos às vítimas diretas de violência e seus familiares. O programa é uma reestruturação do antigo Pró-Vítima e busca ampliar o suporte às pessoas afetadas por crimes violentos no DF”, explica.

A pasta acrescenta que ações permanentes de conscientização visam sensibilizar a sociedade sobre o combate ao assédio e encorajar a denúncia. “Além disso, são promovidas palestras, rodas de conversa e ações educativas em escolas sobre o enfrentamento à violência contra mulheres”, pontua.

A Sejus lidera diversos projetos, como o Papo Delas (com o objetivo de promover diálogos sobre a prevenção e o enfrentamento à violência contra a mulher); Projeto Conversa com Eles (que busca engajar os homens na reflexão sobre comportamentos machistas e sua relação com a violência contra a mulher, principalmente dentro dos canteiros de obras da construção civil); Cidadania nas Escolas (programa da Sejus que visa promover a conscientização e a reflexão sobre violências, incluindo contra mulheres nas escolas públicas do DF).

Veja como denunciar:

Em caso de emergência, a Polícia Militar (PMDF) está disponível pelo número 190.

Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília